quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A menina e o museu


Ai que saudades do cheiro que você tem.
Há tanto tempo não te via ou te sentia. Hoje foi tão bom!
Todos os meus sentimentos voltaram, foi a cereja do bolo.
Olhos mareados ao te ver, coração a mil havia muita saudade entre nós.
Sempre fomos tão unidos.
Sempre nos completamos, mas eu te deixei de lado, minha vida seguiu e você foi se expondo a inúmeros artistas, e eu, só na promessa de te ver novamente.
A vida foi se encaixando aos poucos e eu me sentindo sufocada pois algo faltava dentro de mim.
A vontade de te ver foi ficando insuportável, apesar de passar todos os dias por você mas a gente não se olhava, talvez por orgulho.
Eu não te culpo, fui eu quem te deixei.
Faça o que quiser de mim, mas não me deixe afastar novamente.
Sou humana, cometo erros, não desista de mim, pois não renunciei a você.
Sempre esteve em meus pensamentos, afinal de um modo ou de outro sempre fez parte de mim.

Obrigada por me fazer sentir completa novamente, prometo ser sempre sua.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Da Realidade ao Sonho


Da realidade ao sonho
De um prédio metódico e ritmado
Entramos num sonho
Pessoas se perdem
Sem lugar para se apoiarem
Como se não tivessem chão.

Estou falando de uma instalação contemporânea na Pinacoteca do Estado, A soma dos dias, de Carlito Carvalhosa, trilha sonora Phillip Glass.
Quando entrei, senti muita tontura, como se meu corpo caísse no sono mas eu continuo acordada, porém estou num sonho, onde a realidade e a fantasia se misturam.
Um pano branco me envolve dos pés ao infinito, vai até onde eu quiser, enquanto Phillip Glass entra em mim, me deixando em transe, silêncio.
O real vai se apagando, escuto vozes, mas não entendo sobre o que falam, como se falassem suas próprias línguas de sonho. Vejo vultos, associo com pessoas que passaram pela minha vida, quero saber quem são, mas não posso alcançá-las. De repente a tristeza invade meu corpo junto com a solidão, torno-me introspectiva.
O pano torna-se uma névoa envolvente, forma um caminho estreito e claustrofóbico, daí se abre para um pátio branco, maleável. Sinto estar no purgatório, onde vultos entram e saem e eu continuo ali, apreensiva, no canto de um lugar amplo, pensando nos meus medos e crises.
Não sei quanto tempo passei nesta obra, mas me fez refletir que estou sozinha no mundo, que tenho que tomar as decisões por mim, as pessoas passam, e só nós mesmos continuamos em nossas próprias vidas.
Dessa obra parto para outro lugar, na Pinacoteca mesmo, outro pátio aberto onde me deparo com a obra de León Ferrari, Escultura Lúdica, algo mais fragmentado, menos denso. O barulho por aqui chega a ser irritante, o apito do elevador, adolescente eufóricos, mães gritando para crianças correndo.
O real e o palpável estão presente aqui, posso tocar nas coisas que me remetem ao real.
Meu olhar sobre essa obra é o construir a vida. De cada perspectiva que olho ela se modifica é como se a qualquer momento ela fosse me pregar uma peça, me desafia, como a vida, não podemos prevê-la, temos que lidar com ela para chegar onde queremos.
Enquanto a obra de Carvalhosa me remete ao sonho, e está toda construída “ até o céu”, nessa, tenho que construir com o olhar para formar o que eu quero.
A frase comparativa que ficou dentro de mim é: É impressionante como aqui (obra de León Ferrari) tenho que construir para chegar.

terça-feira, 2 de março de 2010

672 - Uma peça do quebra cabeça



Com quatro cores
Círculo e quadrado
Azul, ocre, vermelho e branco
Em duas formas
Puras, primárias
Apresento
Uma obra de arte
Uma crítica à sociedade

Em meio de 672 quadros,
Entrei numa sala
Eu e mais 62 quadros

Fiquei chocada! Como alguém resumiria, para mim, de um jeito tão sutil que é o indivíduo, dentro de uma sala com 672 quadros
Sendo cada um composto por quatro quadrados e um eixo formado por vários círculos, grandes e pequenos.
A primeira vista cheguei a pensar o porquê de alguém fazer tantos quadros iguais? Mas aí que me espantei.De forma grosseira todos eram iguais, parecidos, assim como um homem é parecido com o outro, composto de cabeça, braços, tronco, pernas, mãos e pés. Depois vinham as cores que se diferenciavam, como um homem pode ser negro ou branco, homem ou mulher.
Em 672 desenhos, o que ele quer dizer?

Os círculos
Ah! Os círculos.
Formam um eixo
Para mim
Um indivíduo
Um círculo

Para mim um eixo, formado por círculos, mostra o indivíduo.

Naquele eixo mostra a lapidação do homem,como ele pode ser único no meio de todos, ou melhor dizendo, como todos podem ser únicos.
Em cada eixo, uma cor foi colocada e outra não, por qual motivo? O que faz cada um ser diferente?
Cada quadro teve seu tempo de produção, em cada tempo um sentimento diferente, o olhar do artista que mudara e montou o mesmo quebra cabeças 672 vezes de forma diferente.Mostra que cada um é um, por mais parecido que sejam.
O meu verde preferido pode não ser tão brilhante para o meu amigo, essa peça já é diferente em nós.
As 672 obras foram me sufocando, uma realidade óbvia não vista, pessoas entravam e saíam em uma velocidade impressionante, talvez por medo de perceberem que são únicos no meio de todos. Medo de saber o quão solitário porém belo isso pode ser.
Eu não tenho medo, me sinto única no meio de todos, acho isso poético, as vezes um tanto solitário e acho belo, o fato de eu ter uma peça diferente da sua ou dele me torna única e eu sou.

Ensaio sobre a obra SAMURAI TREE INVARIANTS - do autor GABRIEL OROZCO