Da realidade ao sonho
De um prédio metódico e ritmado
Entramos num sonho
Pessoas se perdem
Sem lugar para se apoiarem
Como se não tivessem chão.
Estou falando de uma instalação contemporânea na Pinacoteca do Estado, A soma dos dias, de Carlito Carvalhosa, trilha sonora Phillip Glass.
Quando entrei, senti muita tontura, como se meu corpo caísse no sono mas eu continuo acordada, porém estou num sonho, onde a realidade e a fantasia se misturam.
Um pano branco me envolve dos pés ao infinito, vai até onde eu quiser, enquanto Phillip Glass entra em mim, me deixando em transe, silêncio.
O real vai se apagando, escuto vozes, mas não entendo sobre o que falam, como se falassem suas próprias línguas de sonho. Vejo vultos, associo com pessoas que passaram pela minha vida, quero saber quem são, mas não posso alcançá-las. De repente a tristeza invade meu corpo junto com a solidão, torno-me introspectiva.
O pano torna-se uma névoa envolvente, forma um caminho estreito e claustrofóbico, daí se abre para um pátio branco, maleável. Sinto estar no purgatório, onde vultos entram e saem e eu continuo ali, apreensiva, no canto de um lugar amplo, pensando nos meus medos e crises.
Não sei quanto tempo passei nesta obra, mas me fez refletir que estou sozinha no mundo, que tenho que tomar as decisões por mim, as pessoas passam, e só nós mesmos continuamos em nossas próprias vidas.
Dessa obra parto para outro lugar, na Pinacoteca mesmo, outro pátio aberto onde me deparo com a obra de León Ferrari, Escultura Lúdica, algo mais fragmentado, menos denso. O barulho por aqui chega a ser irritante, o apito do elevador, adolescente eufóricos, mães gritando para crianças correndo.
O real e o palpável estão presente aqui, posso tocar nas coisas que me remetem ao real.
Meu olhar sobre essa obra é o construir a vida. De cada perspectiva que olho ela se modifica é como se a qualquer momento ela fosse me pregar uma peça, me desafia, como a vida, não podemos prevê-la, temos que lidar com ela para chegar onde queremos.
Enquanto a obra de Carvalhosa me remete ao sonho, e está toda construída “ até o céu”, nessa, tenho que construir com o olhar para formar o que eu quero.
A frase comparativa que ficou dentro de mim é: É impressionante como aqui (obra de León Ferrari) tenho que construir para chegar.